Dado o contexto do processo sinodal promovido pelo Papa Francisco, a teóloga Birgit Weiler oferece uma reflexão em seu artigo “A troca de dons entre as Igrejas locais”. Este texto ilumina uma dimensão central da vida eclesial: a capacidade de compartilhar espiritualidades, carismas, bens materiais e experiências pastorais entre comunidades diversas, como expressão viva de uma Igreja que caminha junta. O texto nos convida a repensar nossas relações eclesiais a partir de uma perspectiva de comunhão, reciprocidade e profecia social.
Troca por amor e pela missão
Weiler ressalta que a troca de dons é um testemunho do amor de Deus e uma forma concreta de viver a comunhão. Ele cita o Documento Final do Sínodo para enfatizar que esta prática “é um sinal eficaz da presença do amor e da misericórdia de Deus em Cristo que acompanha, sustenta e guia com o sopro do Espírito Santo o caminho da humanidade rumo ao Reino” (DF 120). O autor relaciona esta ideia com o testemunho das primeiras comunidades cristãs, que «colocavam as suas coisas em comum» ( At 2, 42-47), como modelo de vida eclesial inspirada na solidariedade e na gratuidade.
Em um mundo marcado pelo individualismo e pela fragmentação, a troca de dons entre Igrejas —locais, regionais ou globais— representa um gesto contracultural de fraternidade. Como afirma o autor, “o testemunho da partilha e da troca de dons […] é necessário hoje mais do que nunca”. Esta troca não se limita ao material; inclui também “a experiência da fé, a riqueza espiritual, os carismas e o compromisso social” como caminhos de enriquecimento mútuo e de anúncio do Evangelho em contextos diversos.
Ressalta também que o intercâmbio deve ser realizado numa perspectiva sinodal, na qual “a ajuda financeira não degenere em assistencialismo, mas promova uma autêntica solidariedade evangélica e seja gerida de maneira transparente e confiável” (DF 121). A chave está na reciprocidade e em reconhecer os pobres não como destinatários passivos, mas como “protagonistas do caminho da Igreja” (DF Parte I, 4), com dons que contribuem para enriquecer toda a comunidade eclesial.
Caminhando Juntos: Comunhão, Ecumenismo e Profecia Social
Outro eixo central do texto é a dimensão ecumênica da troca de dons. Weiler recorda que o Sínodo destaca o seu valor como “sinal eficaz daquela unidade na fé e no amor de Cristo” (DF 122), crucial para a credibilidade da missão cristã. Nas palavras de São João Paulo II, “o diálogo ecumênico não é apenas uma troca de ideias. É sempre, em qualquer caso, uma troca de dons” (UUS 28). Assim, compartilhar dons com outras Igrejas e comunidades cristãs fortalece a comunhão e capacita a ação conjunta pela justiça, pela paz e pelo cuidado da nossa casa comum.
O autor também faz um forte apelo à consciência histórica, observando que muitas trocas entre Igrejas no Norte e no Sul globais ocorrem em contextos marcados pelas consequências do colonialismo e do neocolonialismo. Por isso, ele afirma que esta troca deve implicar uma “reconciliação de memórias” e “o reconhecimento de que as Igrejas jovens têm dons valiosos a oferecer”. Isso requer uma vontade genuína de aprender com outras tradições, quebrar a lógica do poder e abraçar a interculturalidade como uma fonte de riqueza.
Weiler conclui que a troca de presentes é “uma prática de profecia social” (DF 153), particularmente relevante em um mundo globalizado que tende à homogeneização e à exclusão. Uma Igreja sinodal que vive essa dinâmica se torna um testemunho de comunhão autêntica, aceitação mútua e esperança. Assim, a troca de dons não só fortalece a vida interna da Igreja, mas também a projeta profeticamente a serviço do Reino de Deus.
Baixe o artigo completo no site do Observatório Latino-Americano de Sinodalidade.
Você pode estar interessado em: Guatemala: A beleza natural que esconde um clamor social
Inscreva-se em nosso canal Whatsapp: https://whatsapp.com/channel/0029VazM21X6WaKvBlZ91E47
Baixe o último caderno de estudo 007: Caderno de estudo
Enviar comentario