O teólogo italiano e secretário da Comissão Teológica Internacional desde 2021, Piero Coda, participou recentemente de um encontro organizado pelo Grupo de Antropologia Trinitária e pelo centro de formação Cebitepal do Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (CELAM). Durante a visita, ele compartilhou reflexões sobre o papel da teologia no mundo atual, em diálogo com outros pensadores da região.
Como explicou à ADN Celam, a teologia deve oferecer uma luz capaz de guiar a humanidade em meio a desafios complexos: “Analisamos os temas da Igreja hoje à luz da revelação de Deus, que é Trindade, amor, acolhimento, transbordamento de amor para todos”, disse, referindo-se às sessões de trabalho.
Durante o encontro, foi traçado um plano de trabalho trienal e realizado um debate sob o título “Sinodalidade e Reciprocidade: Caminhos de Encontro e Comunhão“, no qual Coda aprofundou a proposta de uma Igreja sinodal, promovida pelo Papa Francisco.
Teologia, crises globais e diálogo transdisciplinar
Coda foi claro ao apontar que a teologia tem um papel valioso a desempenhar no debate público contemporâneo, especialmente em questões de ética, justiça e direitos humanos: “Precisamos de uma luz que realce o significado e o destino da existência humana”, afirmou. Para isso, ele enfatizou a importância do diálogo entre teologia, filosofia e ciência, em uma abordagem transdisciplinar que promova a humanidade.
Em relação a crises globais como as mudanças climáticas, a migração e o desenvolvimento da inteligência artificial, o teólogo enfatizou a necessidade de uma perspectiva renovada: “É essencial que a humanidade enfrente uma grande mudança. A migração é considerada o sexto continente em movimento, e a inteligência artificial é uma perspectiva tecnológica muito importante hoje. …precisamos pensar de uma nova maneira, ver as coisas de forma diferente. Precisamos de um tipo diferente de colaboração e, nesse sentido, a luz cristã, a revelação cristã, é fundamental”.
Coda falou em “desmasculinizar a teologia e a Igreja”, expressão que o próprio Papa Francisco dirigiu à Comissão Teológica Internacional. Coda afirmou que a América Latina e o Caribe já mostram avanços significativos nesse campo, com aumento da participação feminina na reflexão teológica.
Sinodalidade e reforma eclesial
Sobre a sinodalidade, ele a considera uma forma de fazer teologia hoje: “A teologia é sinodal, ela tem dois aspectos fundamentais. O primeiro é que a teologia tem que ser feita de forma sinodal, tem que colocar diferentes perspectivas, experiências contextuais, tem que ser feita de forma dialógica. Por outro lado, a teologia tem que abordar os temas, os nós de uma reforma, uma conversão de vida para que a comunidade cristã tornar-se o ponto de partida de uma nova missão da Igreja em nosso tempo”.
Na sua visão, a sinodalidade não entra em conflito com a ordem sagrada, mas a enriquece pela participação ativa de todo o Povo de Deus: “Embora a sinodalidade seja um conceito muito amplo, contemporâneo, recente; a verdade é que é um conceito que vem dos primórdios da Igreja, onde a Igreja, a primeira comunidade, fundou Jerusalém, como diz o capítulo 15 dos Atos dos Apóstolos. Diz-se que o Espírito Santo e nós decidimos quem expressa ‘este nós’, nós escutamos a voz do Espírito, que se expressa naquilo que tem o ministério da orientação, o ministério ordenado, os bispos, mas na escuta e no discernimento por parte de toda a comunidade cristã”.
A Igreja do terceiro milênio
Em sua mensagem aos novos teólogos, Coda nos convidou a viver a teologia “de joelhos”, nutridos pela oração, mas também com os pés firmemente plantados nas realidades do mundo: “Não tenham medo de ir às periferias, onde se encontra o sofrimento mais profundo. É lá que o Evangelho deve falar”, expressou.
Ele disse que a maior contribuição é iniciar a jornada sinodal, que é uma atualização do Concílio Vaticano II: “Esta etapa marcará o caminho da Igreja no terceiro milênio. Não é algo que termina rapidamente. Então, o Papa Francisco promoveu a reforma da teologia”.
Ele também mencionou a Constituição Apostólica Veritatis Gaudium, como um texto que propõe uma reforma global da teologia, voltada ao diálogo com o conhecimento contemporâneo. Para Coda, a teologia do século XXI deve ser aberta, dialógica e cristocêntrica: “Uma teologia que escuta muitas vozes, mas que escuta Cristo como única voz”.
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