“Falta coragem para dar passos concretos“, disse o teólogo brasileiro Manoel Godoy, referindo-se ao Instrumentum laboris planejado para a segunda sessão da 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a ser realizada em outubro.

Mais do mesmo

De uma perspectiva crítica, Godoy disse que o texto “repete uma série de ideias já desenvolvidas em vários documentos da Igreja” que, embora “são boas”, “não são concretizadas na vida da Igreja”.

“Temos a sensação de que é mais do mesmo”, continua o teólogo brasileiro, argumentando que “há uma falta de criatividade” e “uma falta do evangelho” — parafraseando Xabier Pikaza.

“Que o processo de sinodalidade é uma possibilidade de avanço na Igreja, ninguém duvida, mas falta coragem para dar passos concretos”, acrescenta, enquanto pergunta: “por que não estender a possibilidade de ordenação para homens casados?”, bem como para as mulheres e seu acesso ao diaconato.

Revisão do Direito Canônico

Da mesma forma, Godoy questiona: “por que não foi feito ainda uma profunda revisão do Código de Direito Canônico“, que, segundo ele, continúa siendo “extremamente misógino” e “centralizador de tudo nas mãos do clero”.

Além disso, o teólogo defende a implementação de uma “profunda reforma no processo de eleição dos bispos“, que permanece nas mãos de “nunciaturas alheias à vida da Igreja local”.

Na mesma linha, Godoy considera urgente “tomar medidas claras contra o clericalismo”, considerado pelo próprio Papa Francisco como um “câncer da Igreja”.

Ingenuidade e desconexão da realidade

Diante dessas questões, “as belas afirmações de uma eclesiologia de comunhão, participação e missão, que estão no Instrumentum laboris para o sínodo, soam desconectadas da realidade”, pois “imaginar que com esse clero que temos caminharemos juntos, como uma Igreja em sinodalidade, me parece ingênuo demais”, afirma o teólogo.

No entanto, Manoel Godoy está confiante de que “o processo de sinodalidade um dia será capaz de germinar as sementes de esperança semeadas nestes tempos”.

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