Numa entrevista concedida ao programa televisivo “Che tempo che fa”, do canal italiano Nueve, o Papa Francisco anunciou este domingo a nomeação de Irmã Raffaella Petrini como presidente do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano. Esta mudança, que entrará em vigor em março, marca um novo marco no caminho para uma maior incorporação das mulheres em funções de alta responsabilidade.
Irmã Raffaella Petrini assumirá o cargo, substituindo o cardeal espanhol Fernando Vérgez, que se aposentará após completar 80 anos. Esta promoção representa um exemplo do compromisso de Francisco com as reformas destinadas a reconhecer e reforçar a liderança feminina dentro da Igreja. O Papa, conhecido pela sua sensibilidade para com as questões de inclusão e equidade, reafirmou durante a entrevista: “As mulheres sabem gerir melhor do que nós”.
“O que vem do Espírito Santo não pode ser interrompido”
O recente Sínodo sobre a Sinodalidade, cuja segunda sessão teve lugar em Roma, em outubro de 2024, foi um espaço em que foi reafirmado o pedido de reconhecimento da liderança feminina.
No Documento Final, endossado pelo Papa, afirma: “As mulheres contribuem para a investigação teológica e estão presentes em cargos de responsabilidade em instituições ligadas à Igreja, à Cúria diocesana e à Cúria Romana. Há mulheres que exercem autoridade ou são líderes comunitárias”.
Além disso, acrescenta: “Esta Assembleia apela à plena implementação de todas as oportunidades já previstas na legislação actual em relação ao papel da mulher, particularmente em locais onde ainda não foram implementadas. Não há nada que impeça as mulheres de desempenharem papéis de liderança na Igreja: o que vem do Espírito Santo não pode ser impedido”.
A nomeação da Irmã Raffaella Petrini é um exemplo de como estas reformas se traduzem em ações visíveis. Desde diversas comunidades eclesiais celebra-se este gesto que mostra a importância da mulher na vida da Igreja e abre novos horizontes de participação.
Quem é Irmã Raffaella Petrini?
Irmã Raffaella Petrini, nascida em Roma em 15 de janeiro de 1969, é formada em Ciência Política pela Universidade Internacional Guido Carli e doutora pela Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, onde também atua como professora.
Sua carreira na Cúria Vaticano começou como oficial da Congregação para a Evangelização dos Povos. Esta nomeação destaca a sua capacidade profissional e simboliza também um passo em direção à igualdade na governação eclesial.
Reformas em ação
Desde o início do seu pontificado, Francisco implementou reformas que procuram abrir espaços para as mulheres na estrutura da Igreja. O Praedicado da Constituição Apostólica Evangelium marcou um antes e um depois na reorganização da Cúria Romana, permitindo que mais mulheres ocupassem cargos de gestão.
Atualmente, diversas figuras femininas lideram áreas-chave, como Barbara Jatta, diretora dos Museus do Vaticano, que vem de uma família italiana com ligação às artes e ao restauro. Formou-se em literatura e posteriormente especializou-se em Administração de Arquivos e História da Arte. Em 1996, ingressou na Biblioteca Apostólica do Vaticano, onde, após alguns anos, assumiu sua direção, exercendo esse cargo por duas décadas.
Posteriormente, integrou a equipa dos Museus do Vaticano, que têm origem no século XVI com a colecção privada do Papa Júlio II. Atualmente, estas galerias abrigam mais de 70 mil obras, embora menos da metade estejam em exposição, incluindo peças icônicas de artistas como Michelangelo e Rafael. Em 2016, o Papa Francisco surpreendeu ao anunciar Barbara Jatta como sucessora de Antonio Paolucci na direção dos Museus do Vaticano, destacando também o seu papel como mãe de três filhos.
Presença feminina
Simona Brambilla, ex-superior geral dos Missionários da Consolata, foi nomeada pelo Papa Francisco prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, tornando-se a segunda mulher a ocupar um cargo desta magnitude na Cúria Romana.
Com quase 60 anos, tem uma destacada carreira missionária em Moçambique, além da experiência como enfermeira profissional e da liderança no Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata entre 2011 e 2023. Anteriormente, foi secretária de o mesmo dicastério desde outubro de 2023.
Nathalie Becquart, nascida em Fontainebleau em 1969, é uma freira e teóloga francesa conhecida por sua liderança na Igreja Católica. Formada em empreendedorismo pela HEC Paris, trabalhou em marketing antes de ingressar na Congregação dos Xavières em 1995. Com experiência em pastoral juvenil e formação em teologia, filosofia e sociologia, dirigiu o serviço nacional de evangelização juvenil na França e desempenhou um papel chave no Sínodo dos Bispos sobre os jovens em 2018. Em 2021.
O Papa Francisco nomeou-a subsecretária do Sínodo dos Bispos, sendo a primeira mulher com direito de voto nesta assembleia, num esforço para fortalecer a sinodalidade e a participação das mulheres na Igreja.
Neste contexto, o Papa Francisco também destacou que agora há muitas mulheres nas cúrias. Este progresso reflecte-se em números: entre 2013 e 2023, a presença feminina no Vaticano passou de 19,2% para 23,4%, segundo dados fornecidos pelo Vatican News.