O Sínodo como ato de resistência

O Sínodo como ato de resistência
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A Revista Christus publicou o artigo “Um olhar externo sobre o Sínodo”, escrito por Mario Campos, cientista político e professor de Comunicação da Universidade Ibero-Americana. O texto oferece uma reflexão crítica sobre o processo sinodal da Igreja Católica a partir de uma perspectiva externa, proporcionando uma abordagem focada nos desafios do atual ecossistema de informação.

Campos se baseia em sua experiência como analista político e comunicador para examinar como o Sínodo contrasta radicalmente com a cultura contemporânea de isolamento, polarização e imediatismo.

Um mundo polarizado, acelerado e sem confiança

A análise começa com um diagnóstico do ambiente digital: hoje, mais do que janelas para o mundo, as redes sociais funcionam como espelhos. Campos argumenta que os algoritmos reforçam as percepções individuais e isolam as pessoas de diferentes perspectivas, consolidando bolhas de informação. Isso, em vez de promover o entendimento mútuo, alimenta a polarização e, eventualmente, a radicalização.

Soma-se a essa situação a deterioração da confiança institucional. O autor expõe como a superexposição da mídia, a desinformação e o escrutínio constante corroeram a credibilidade de organizações públicas, políticas e religiosas. Neste contexto, a cultura digital produz indivíduos hiperestimulados, impacientes e desconectados dos outros. A lógica da gratificação imediata, diz ele, é incompatível com o tempo necessário para reflexão profunda.

Campos descreve um cenário marcado pela perda de espaços comuns de reunião. As pessoas hoje vivem em ambientes cada vez mais personalizados, consumindo informações que reforçam sua visão de mundo e descartando tudo que a contradiz. Nesse contexto, a proposta sinodal se torna disruptiva: um esforço coletivo, deliberado e lento que busca recuperar o diálogo real.

O Sínodo como contracultura

Diante deste mundo, o Sínodo surge como um compromisso contracultural. Primeiro, pela sua temporalidade. Este é um processo que começou em 2021, com várias etapas ao longo dos anos, e continuará até 2024. O discernimento, elemento-chave do exercício, exige tempo, algo que contradiz a lógica do imediato.

Em segundo lugar, pela sua dimensão comunitária. O Sínodo propõe uma deliberação colegial que transcende as individualidades. Ela destaca a inclusão de vozes diversas, desde cristãos de outras denominações até representantes de outras religiões e setores sociais marginalizados. O objetivo: construir uma Igreja mais aberta, plural, capaz de se envolver com a complexidade do mundo de hoje.

O autor indica que essa abertura implica reconhecer a diversidade interna da Igreja como um valor. A referência a povos, línguas e ritos distintos dentro do processo sinodal aponta para uma visão de unidade na diferença, muito distante dos discursos de homogeneidade cultural que frequentemente dominam o debate público.

Autocrítica e novos caminhos

Um aspecto importante do artigo é o valor que Campos atribui à autocrítica institucional. O Sínodo não se esquiva das dívidas históricas: aborda o lugar relegado das mulheres na Igreja, a marginalização dos pobres e os abusos cometidos por membros do clero. Para o autor, esse reconhecimento é essencial para que possamos recuperar a confiança perdida.

Além disso, o Sínodo propõe uma reformulação institucional. Estruturas verticais são desafiadas e maior participação, transparência e responsabilização são defendidas. O texto enfatiza que o processo não deve permanecer mera retórica: são necessárias ações que reflitam a transformação prometida.

Campos conclui que, em tempos de isolamento, superficialidade e descrédito, o Sínodo representa um gesto de resistência. Não é perfeito, nem tem todas as respostas, mas abraça uma lógica diferente: a do diálogo, da escuta, da inclusão e da paciência. Diante do ruído do presente, o Sínodo propõe uma verdadeira conversa. E isso, por si só, já é uma forma de esperança.

Leia o artigo completo aqui.

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