Contribuições do CELAM para o discernimento da eleição dos bispos na Igreja

Contribuições do CELAM para o discernimento da eleição dos bispos na Igreja
Compartilhar...

O Conselho Episcopal Latino-Americano e do Caribe (Celam) apresentou um valioso documento intitulado “A eleição dos bispos na Igreja: contribuições da história, da teologia e do direito”. Esta obra –fruto de uma colaboração interdisciplinar de teólogos de vários ramos e elaborada durante a preparação da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos– procura renovar o processo de seleção episcopal através de uma reflexão sinodal e inclusiva.

Os autores que contribuíram com suas reflexões para a elaboração deste documento, e que aparecem publicados no último número monográfico da revista Seminários (volume 70), são Santiago Guijarro, Samuel Fernández, José Antonio Calvo Gómez, Rafael Luciani, Serena Noceti, Erio Castelluci e José San José Prisco.

Uma reflexão abrangente sobre a eleição dos Bispos

O documento apresentado pelo Celam aborda a eleição dos bispos numa perspectiva que integra história, teologia e direito canónico, e expõe como este processo evoluiu ao longo dos séculos. Um dos pontos mais relevantes é o estudo da eleição de Matias, narrada nos Atos dos Apóstolos, como modelo para compreender como os primeiros cristãos realizaram esses discernimentos. Esta história mostra a participação ativa da comunidade e o reconhecimento da vontade divina, abrindo um precedente para integrar ambas as dimensões na seleção episcopal.

Da mesma forma, são analisadas práticas históricas desde a antiguidade cristã até a Idade Média. Neste contexto, Samuel Fernández explica como as igrejas locais utilizaram vários métodos que, embora diferentes, partilhavam um objetivo comum: discernir a vontade de Deus através do consenso entre pessoas e pastores. Estas práticas permitiram equilibrar a autoridade hierárquica com a participação comunitária, proporcionando lições relevantes para o presente.

Por outro lado, são exploradas as complexidades que surgiram ao longo do tempo, como a influência dos poderes seculares no processo eleitoral. Desta forma, propõe-se que é importante retornar aos elementos essenciais da tradição primitiva para garantir um processo mais livre e alinhado aos princípios eclesiásticos. Neste sentido, o documento do Celam oferece um guia para renovar a prática, buscando fortalecer a identidade sinodal e pastoral da Igreja.

Sinodalidade no centro

O Concílio Vaticano II constitui um ponto de referência fundamental no documento Celam, redescobrindo a importância das Igrejas locais e o seu papel na vida eclesial. Rafael Luciani e Serena Noceti destacam que este concílio promoveu a eclesiologia de comunhão, destacando o Sensus Fidei Fidelium, ou sentido de fé do povo de Deus, como fator decisivo para a corresponsabilidade na eleição dos bispos. Isto implica uma mudança significativa no sentido de uma participação mais activa de todos os membros da Igreja.

Além disso, o documento destaca a necessidade de estruturar processos de discernimento que reflitam a verdadeira sinodalidade, que inclua a consulta à comunidade local, a participação dos bispos vizinhos e a comunicação aberta com os conselhos diocesanos. Tais práticas garantem um processo mais inclusivo e fortalecem a unidade e a identidade eclesial a diferentes níveis.

Em última análise, o Celam defende uma estrutura mais horizontal, que respeite a diversidade das Igrejas locais e encoraje uma maior corresponsabilidade. Esta abordagem procura superar as limitações dos rígidos modelos hierárquicos, promovendo uma visão de Igreja onde todos os membros, independentemente do seu papel, contribuem para o discernimento e a missão evangelizadora.

Rumo a uma Igreja Sinodal

A visão do Celam para uma Igreja sinodal implica uma renovação das estruturas e da mentalidade com que são abordados os processos eleitorais episcopais. Como mencionado pelo Arcebispo Erio Castellucci, é essencial que os bispos sejam vistos principalmente como pastores e não como administradores. Isto exige uma revisão das suas responsabilidades actuais, permitindo-lhes dedicar mais tempo às suas comunidades locais e menos a tarefas burocráticas.

Assim, o documento também propõe melhorias no quadro canónico para garantir que os processos sejam mais inclusivos e representativos. José San José Prisco sugere que as consultas com os conselhos diocesanos e episcopais se tornem um elemento central do discernimento. Este modelo, inspirado nas Igrejas Orientais Católicas, garante a participação activa do povo de Deus na escolha dos seus líderes.

Entregue ao sétimo grupo de estudo do Sínodo

Conforme relatado por Cardeal Mario Grech, Secretário Geral do Sínodo, na primeira Congregação Geral da segunda sessão da Assembleia Sinodal, em 2 de outubro de 2024, os grupos de estudo estão abertos para receber contribuições de todo o Povo de Deus até junho de 2025. Isto inclui grupos de fiéis, associações, movimentos, universidades, entre outras instituições.

Esta contribuição acadêmica foi entregue ao Grupo de Estudos 7 do Sínodo. Através desta contribuição, a Celam reflete o seu interesse em trabalhar numa Igreja onde todos contam. Esta abordagem sinodal contribui para uma comunidade mais unida e corresponsável, onde a eleição dos bispos é um sinal de participação ativa e de fé partilhada. Portanto, o documento apresentado torna-se um guia para caminhar em direção a uma Igreja plenamente sinodal e missionária.

Leia as contribuições do Celam ao Grupo de Estudos 7 do Sínodo neste link: http://www.seminariosdigital.es/


Compartilhar...

Enviar comentario

Su dirección de correo electrónico no será publicada.