Cardenal Pedro Barreto
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Além das divergências, sempre teremos algo em comum, uma dinâmica que deve marcar as relações na Igreja, como nos faz ver o Cardeal Pedro Barreto. Para isso, é necessário descobrir a fraternidade nascida do batismo, que possibilita a construção do Reino.

O Cardeal ressalta a importância de se viver a fé em todos os momentos e em todas as áreas, e de a ministerialidade ser reconhecida e valorizada pela comunidade. Ele também fala da urgência da comunicação interpessoal e da experiência de comunhão, com a participação de todos os membros na única missão de Jesus. 

Isso porque “todos somos povo de Deus, somos todos batizados, temos uma corresponsabilidade na missão”, sendo a Segunda Sessão da Assembleia Sinodal um motivo de muita esperança, na qual “Deus estará conosco, e nós seremos, de alguma forma, instrumentos dóceis da mão de Deus para dar esperança em um mundo que certamente perdeu a confiança”.

Pergunta. Os relacionamentos são um elemento fundamental na vida de toda comunidade eclesial. Como a sinodalidade pode ajudar a tornar esses relacionamentos menos lineares e mais circulares, menos hierárquicos e mais evangélicas?

Resposta. Fundamentalmente, a Igreja é animada pelo Espírito Santo. E se houver uma experiência pessoal da ação do Espírito Santo em cada um de nós, podemos ter diferenças, mas sempre teremos algo em comum. Se não pudermos concordar, temos que continuar procurando não o que eu penso, mas o que o Espírito de Deus pensa em cada um de nós. Portanto, não há espaço para discussão, nem para competir com as opiniões uns dos outros.

P. Em uma Igreja sinodal, por meio do batismo, o Espírito Santo nos conforma à imagem de Cristo e nos envia em missão. Como podemos ajudar todos aqueles que fazem parte da Igreja a assumir essa dimensão?

R. Uma formação constante para que eles possam ver a riqueza de serem batizados na Igreja Católica. Em outras palavras, o batismo nos torna irmãos e irmãs, e a partir dessa fraternidade, fruto desse sacramento, podemos trabalhar para construir o Reino de Deus que o próprio Deus nos pede.

P. O Instrumentum laboris da segunda sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade pede a manifestação dos carismas na vida cotidiana, nas relações familiares e sociais. Por que é importante estarmos conscientes de viver nossa fé na vida cotidiana?

R. Porque não há dúvida de que muitas vezes estamos acostumados a expressar nossa fé de forma setorial. A fé deve ser demonstrada e vivida em todos os momentos, a começar pela família, pela esfera social, pela esfera do trabalho. E, portanto, temos de ser coerentes com o fato de que o batismo nos torna conscientes desse compromisso a partir da realidade em que vivemos.

P. A ministerialidade é algo que de fato é vivido na Igreja na América Latina. Por que é importante reconhecê-la explicitamente e como isso pode ajudar a avançar a missão evangelizadora nos contextos locais?

R. Na realidade, o ministério, o trabalho de evangelização, é realizado por ministros ordenados, mas também por aqueles que participam do sacerdócio comum dos fiéis, que são os leigos e as leigas, as religiosas, os religiosos. E o que podemos fazer é escutar o Espírito em cada comunidade concreta, de modo que o que é um elemento de serviço seja valorizado pela própria comunidade.

P. Em um mundo cada vez mais marcado pela solidão e pelo abandono, o Sínodo nos chama a exercer o ministério da escuta. Como isso pode ajudar a Igreja e a sociedade hoje?

R. Essa é uma declaração muito importante porque há muitos elementos tecnológicos de comunicação. Mas, no final das contas, a comunicação interpessoal não é apenas necessária, mas urgente, em um mundo de surdos, em um mundo onde o diálogo não é possível, em um mundo onde a polarização em todos os níveis está ocorrendo, até mesmo na própria Igreja.

P. Os ministros ordenados têm dificuldade de trabalhar em equipe, em comunidade, de viver uma comunhão efetiva, por que essa dinâmica, essa forma de realizar a missão pastoral, não pode ser deixada de lado?

R. Se os ministros ordenados não têm essa capacidade de trabalhar em equipe, há duas razões fundamentais, uma é a pessoa, a estrutura da personalidade, que os torna autorreferenciais, por um lado, e, por outro, a ignorância do que significa a vocação na Igreja, porque Jesus formou os apóstolos em comunidade, enviou-os dois a dois. Em outras palavras, a experiência de comunhão deve ser muito importante, com a participação de todos os membros na única missão de Jesus.

P. O que o senhor espera pessoalmente da segunda sessão da Assembleia Sinodal e o que acha que deve ser enfatizado?

R. Em primeiro lugar, que todos somos o povo de Deus, que todos somos batizados, que temos uma corresponsabilidade na missão e que a Igreja, que é definitivamente a Igreja de Jesus Cristo, que o próprio Jesus Cristo ocupa o centro efetivo e afetivo de nossas vidas e da vida da Igreja. A missão é de Cristo, a missão não é da Igreja, porque certamente temos que estar conscientes de que todos nós temos que ser ouvintes da Palavra, discípulos da Palavra, que é Jesus, mas ao mesmo tempo missionários enviados por Cristo para proclamar o Evangelho de Jesus.

Esta Segunda Sessão do Sínodo é um motivo de grande esperança. Em meio às dificuldades, em meio aos problemas, discute-se que o Instrumento de Trabalho não está de acordo com o que falamos na Primeira Sessão, que não enfatiza a questão fundamental, que é o fato de sermos o povo de Deus, mas tenho certeza de que o Espírito Santo continuará soprando, como soprou na Primeira Sessão, e temos plena confiança de que Deus estará conosco, e que seremos instrumentos dóceis da mão de Deus para podermos dar esperança em um mundo que certamente perdeu a confiança, perdeu a esperança, e que definitivamente temos de estar cientes de que a esperança tem de ser uma esperança em ação, em testemunho.

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