A Confederação Latino-Americana e do Caribe de Religiosos e Religiosas (CLAR) comemora 65 anos de uma trajetória marcada pela sinodalidade e pelo acompanhamento pastoral. Em seu artigo “CLAR, uma escola prática e pioneira de sinodalidade”, Simón Arnold, monge beneditino e teólogo, apresenta uma análise da evolução e do papel desta instituição na Igreja latino-americana e caribenha.
Arnold diz que, desde o seu início, a CLAR tem acompanhado de perto a Vida Consagrada na América Latina e no Caribe, promovendo o que ele chama de “uma teologia do acompanhamento”. Inspirada na imagem de Jesus ressuscitado no caminho de Emaús, esta teologia permitiu à CLAR ler os sinais dos tempos e adaptar-se às realidades sociais e eclesiais de cada época.
“Mais do que ser um interlocutor autorizado da Vida Consagrada para o exterior, a CLAR buscou reler, junto com a Vida Consagrada Latino-Americana e Caribenha, os sinais dos tempos”, afirma o resumo do texto.
Mudança na narrativa eclesial
Em sua reflexão, Arnold afirma que a sinodalidade é um princípio essencial para a Igreja contemporânea. Ao longo de sua história, a CLAR tem fomentado um modelo eclesial baseado na circularidade, reciprocidade e igualdade, promovendo o diálogo entre diferentes vocações e estados de vida.
Isso ficou evidente no recente Sínodo sobre a Sinodalidade, onde a participação igualitária de mulheres e homens, clérigos e leigos, marcou uma “mudança copernicana e provavelmente irreversível” na maneira de conceber a Igreja. “Este símbolo de circularidade e diversidade na igualdade” é uma transformação da narrativa eclesial, segundo Arnold.
Comunidade sinodal
O artigo também destaca a contribuição da Vida Consagrada para a estrutura sinodal da Igreja, enfatizando seu caráter não clerical desde suas origens no deserto. Arnold argumenta que as primeiras comunidades monásticas foram uma resposta crítica à clericalização emergente da Igreja, recuperando a essência do discipulado igualitário.
“A comunidade de Jesus era completamente sinodal em sua diversidade e reciprocidade entre iguais”, diz o autor, que insiste que a Vida Consagrada deve manter seu papel profético diante das tentações de poder e prestígio.
Opção pelos pobres
Outro tema abordado no artigo é a evolução histórica do apoio da CLAR, desde seu compromisso com a opção pelos pobres, proclamado em Medellín e Puebla, até os desafios atuais do pós-pandemia.
Arnold destaca como a CLAR soube interpretar a realidade contemporânea em chave teológica, passando por uma fase de leitura apocalíptica dos últimos tempos e propondo agora uma releitura a partir da crença pessimista de Qohelet. Arnold argumenta que nos encontramos em uma época em que o monopólio da economia e da tecnologia nos esvaziou do que é essencial, confinando-nos à imediatez do tempo real.
Escola Universal de Sinodalidade Batismal
O artigo conclui com um convite à CLAR para assumir o desafio de se tornar uma escola universal de sinodalidade batismal em seu 65º aniversário. Arnold propõe que a CLAR amplie sua estrutura para compartilhar sua experiência e sabedoria com toda a Igreja, servindo como guia em tempos de crise eclesial e global.
“Não deveríamos ampliar nossa tenda e compartilhar ‘as obras que o Senhor realizou’ entre nós, sair ao encontro da Igreja ferida para propor uma cura sinodal?”, pergunta o autor, como um desafio.
Sobre Simon Arnold
Simon Arnold, OSB, é um monge beneditino belga residente no Peru, prior e mestre de noviços do Mosteiro da Ressurreição em Lima e fundador de sua sede em Chucuito, Puno. Doutor em Comunicação Social pela Universidade Católica de Louvain, ele também é o fundador do Instituto de Estudos das Culturas Andinas. Seu trabalho teológico e pastoral tem se concentrado no acompanhamento da Vida Consagrada e na reflexão sobre a sinodalidade na Igreja.
O artigo completo está disponível no site do Observatório Latino-Americano de Sinodalidade, onde a comunidade eclesial e acadêmica é convidada a se aprofundar nesta reflexão.
Leia o artigo acadêmico no link a seguir: A CLAR, uma escola prática e pioneira de sinodalidade
Enviar comentario